Esta semana levei um susto enorme. Descobri que a filha da minha amiga, de apenas nove anos, começou a usar sutiã.
Ela foi a primogênita entre os filhos de nosso grupo de amigos. Hoje já são cinco e mais um está no forninho.
Não preciso dizer que fiquei apavorada, preciso?
Parece que foi ontem que vi nascer aquela menina linda e bochechuda, que agora, já usa sutiã.
E eu não preciso dizer que fiz as contas de que a infância passa rápido e terei a Carol sem sutiã por mais uns sete, oito anos, né?
Lembrando de mim, sei que o sutiã não é uma simples peça de roupa. Ele é um marco. Mas hoje, como mãe, percebo que o maior marco é na vida da gente.
Para a menina que acaba de ganhar seu primeiro sutiã, o marco vem carregado de uma certa empolgação. Afinal, nossas filhas passam a vida inteira nos olhando colocar aquela peça. A Carol, no auge de seus dois anos, já percebeu que ela tem "peitinho" e eu, tenho peitão" (nem tanto assim, mas tá valendo...rs).
Para mim, ao pensar na Carol e no quanto o tempo passou rápido para minha amiga, chegou até mim, um certo pavor.
Pavor de pensar no mundo nojento, de homens cretinos que chamam nossas pequenas de "novinhas".
Pavor de pensar que ela enfrentará a partir de agora a ditadura da beleza, estampada nas revistas cretinas voltadas a este público.
Pavor de pensar que ela terá que enfrentar em breve a tarefa de dizer não aos cretininhos que acham que prova de amor é se entregar a eles.
Pavor de pensar que um pouco mais adiante, ela terá que ser a mulher exemplar na cama e na cozinha. Que terá que ouvir um babaca gritar do carro "tinha que ser mulher", só porque ela respeita as leis de trânsito e não excede o limite de velocidade.
Pavor de pensar que ela será constantemente comparada e fará parte de listas masculinas cretinas de "pego e não pego", "moça direita" e "vagabunda". Ou que ela terá que passar por algum cretino que soltará um assobio.
Pavor de pensar que ela terá que trabalhar o dobro e ganhar menos que um homem.
Poderia ficar horas falando sobre todos os pavores que pensei. Pois só quem já passou pelo primeiro sutiã, sabe a luta que é ser mulher.
Mas prefiro ater-me ao que nos faz passar por estes medos: nossa formação!
Ela tem uma família cheia de valores e princípios, e saberá, a seu tempo, lidar com cada dificuldade imposta pela sociedade machista em que ainda vivemos.
Depois que pensei nisto, nas raízes aos quais ela está arraigada, o pavor passou. Ela é uma linda menina. E será uma linda e forte mulher.
Quanto ao futuro sutiã da Carolina, sei que, quando o dia chegar, eu vou olhar para a minha mocinha, tal como olhei a mocinha da minha amiga e vou me emocionar.
Mas tal como ela, Carolina tem um pai que já entendeu que marido e mulher andam lado a lado. Que não existe melhor nem pior.
Mas deixa isto pra lá. Por enquanto, quero mesmo é brincar!