"Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre".
E o grande dia chegou. Carol falava dele desde os quatro anos, por causa de um desenho da Peppa Pig, que falava sobre a tal da "Fada do Dente". Toda vez que assistia, perguntava se o dente já estava mole.O tempo passou e Peppa Pig perdeu espaço para Jovens Titãs. Mas as amiguinhas na escola sempre a lembravam que em breve, "a Fada do Dente" apareceria, assim que ela perdesse o dente. Assim, há um mês, percebemos que o dente começava, finalmente, a amolecer.
Anteontem, enquanto tomávamos banho, senti que ele cairia. A empolgação foi enorme. Pegamos um fio dental, como ela queria, porque tinha aprendido com a amiguinha Mafê, mas, ao perceber o leve desconforto ao puxar a linha, exitou e chorou um pouco. Tentamos a maça, a puxadinha rápida, mas, a cada leve dor, ela pensava em desistir. Eu também. Aquilo era um desafio para mim, Queria muito arrancar o primeiro dente da filha. Mas visto que a alegria deu lugar à insegurança, deixamos para o outro dia.
Quando acordamos, tentei novamente, mas percebi que o que ela queria era mostrar o dente mole para as amiguinhas. Pedi a ela que tomasse cuidado, pois ao menor sinal, ela poderia perder o dente e acaber engolindo. Recomendações feitas, seguimos para nossos afazeres. Ela e o Gui foram para a escola deles, e eu, para a minha (aliás, preciso escrever sobre isto também).
E durante esta tarde, tanta coisa se passou em minha cabeça. Lembrei quando este dentinho, agora tão renegado, foi motivo de alegria e preocupação quando nasceu. Graças a Deus, ela sofreu pouco. As pomadas, os chás, as tantas receitas não foram necessárias. E se foram, sinceramente eu não me recordo. Aliás, dizem que o instinto materno é culpado por nos fazer esquecer as coisas ruins da maternidade, como o cansaço, as dores, os medos de cada fase.
Durante esta tarde, lembrei de cada detalhe de sua vida: a primeira mamada, o primeiro sorriso, engatinhando na praia, andando na cozinha, a primeira febre,...as palavras, as brincadeiras, os aniversários...meu Deus...já sou feliz há seis anos!
E na mesma tarde em que eu pensava no passado, o futuro arrancou do meu peito, um enorme desespero: meu Deus...daqui seis anos, ela já não será uma criança! E aí, parece que nada mais fazia sentido aqui, longe deles. Minha vontade era de sair da escola correndo, pegar os dois e ir para um lugar em que o tempo passasse mais devagar. Mas segurei as pontas, entre um choro aqui e acolá, consegui esperar.
Na última aula, não aguentei. Quis buscá-los na escola para saber se estava tudo bem. Será que teria que levá-la ao dentista? Poxa...como eu conseguiria arrancar aquele dente sem chateá-la? Tantas coisas em minha cabeça.
Então ela me vê no portão e corre ao meu encontro, sorrindo o sorriso mais lindo e feliz da vida...de janelinha!
Empolgada, me conta cada detalhe de sua aventura. Empoderada, conta que ela amoleceu o dente, que ela viu o dente cair, que ela pegou o dente...ela, ela, ela...não precisou da mãe.
Ah, mas que delícia ouvi-la falar a mesma história para o pai, para a vó, para os tios...
E eu, que passei a tarde inteira chorando, percebo que ela passou sorrindo.
Vi que a felicidade reside em cada conquista daqueles que mais amamos. Vi que a cada dia que vivermos, serei menos necessária. Mas certamente, serei completamente feliz por isto.
Quando cheguei, só quis uma coisa: um abraço da minha mãe. Não falei quase nada (o que é difícil), mas naquele abraço, cabia um mundo de compreensão sobre o que é ser mãe. Ali, lembrei o quanto minha mãe me ama, porque eu percebi mais uma vez,o quanto amo a Carol e o Gui.
Assim, termino minha pequena cartinha: agradecendo a Deus pelo privilégio de enxergar EM TUDO, o milagre de ser mãe e a bondade de Deus de permitir que eu viva intensamente cada detalhe da vida dos meus amores.