Carolina e Guilherme,
Aprendam desde já: ser-ter irmão é a coisa mais louca que seu pai e eu proporcionamos a vocês. Em primeiro lugar porque naturalmente vocês são as pessoas que conviverão um com o outro por mais tempo.
Nem seu pai e eu os teremos por mais tempo. Eu espero viver muitos dos anos de vocês, mas da infância à velhice, o privilégio será de vocês dois.
Nem mulher, nem marido, nem filhos, os terão por mais tempo. Eles já os terão conhecido tardiamente (muito provável).
Mesmo você, Carolina, que foi filha única por dois anos e um mês, não lembrará. Ou seja, desde que você tem consciência de que é você, você já tem o Gui. E o Gui então, nem se fala. Você antes de ser você, já tinha a Carol. (Coisa louca, né?)
Vocês acordam praticamente juntos. Muitas vezes, eu estou acordada, fazendo algo e escuto os sorrisinhos de vocês. Então pergunto quem acordou quem. Às vezes, Carol. Às vezes, Gui. O importante é: o dia não começa pra vocês se o outro não estiver acordado.
Então, tento trocar o Gui. Carol tenta ajudar e, de repente, aperta mais forte a bochecha do irmão. Primeiro choro do dia. Acalmo o Gui e vou preparar o café.
Se eu dou o café no copo trocado, acabou o mundo. Mas assim que olho pra vocês, vejo que um está com o copo do outro na mão. Ou seja, irmãos adoran trolar os pais.
Começa então o ciclo interminável do brinca-briga. Cinco minutos de brincadeira e cinco, às vezes dez, de briga. Brigam pelo brinquedo que estava no chão, pela roupa na cadeira, pela atenção da mãe, pela Lucy, pela mesma bolacha, pelo mesmo talher, enfim. Só tem graça o que está na mão do outro. Não importa se vocês tem brinquedos iguais. O que está na mão do irmão tem poderes mágicos.
Ah...e sabe o milagre que acontece de vez em quando, de um estar quietinho, brincando com seus brinquedos? Quando o outro percebe, automaticamente surge a necessidade incontrolável de mexer com ele para a paz acabar. O circo está montado. Choros, berros, brigas e a satisfação do outro.
Mas existe uma coisa mágica em ser irmão. Vocês podem brigar o dia inteiro. Mas hoje, e tantos outros dias enquanto vocês brincavam lá fora, era possível ver o cuidado de um com o outro.
Se as crianças chegavam perto do Guilherme, Carolina ia pra cima pra protegê-lo, para não derrubá-lo. Em contrapartida, se Guilherme vê Carol chorando, corre pra dar um beijo nela, sem nem saber o motivo.
E quando eu brinco de que não vou pegar o Gui de dentro do carro? Carolina berra:
_Mãe, pega o Guiiiii!!!
E sabem de uma coisa, meus filhos? Esta relação morde-assopra, brinca-briga, ataca-defende vai durar a vida toda.
Vocês vão crescer e as únicas coisas que mudarão serão os motivos pelos quais brincarão, discordarão, brigarão.
E sabem mais uma coisa? O amor vai superar qualquer coisa. Qualquer diferença de opinião. Qualquer briga e qualquer dificuldade desta relação. E eu posso lhes garantir: mesmo com todas estas coisas loucas, a cada dia vocês serão cada vez mais loucos um pelo outro.